Infelizmente os artigos condicionais “mas”, e “se” não mudam a história
Recebi recentemente um retweet de um post de uma rede social, onde o texto dizia que Michael Schumacher não teria os sete títulos conquistados, se o Ayrton Senna não houvesse falecido no fatídico dia 01/05/1994. Que o alemão não teria sido campeão naquele ano, nem que teria tantos títulos se o brasileiro estivesse vivo, que só foi heptacampeão porque não teve rivais e por ai vai.
Discordo deste monte de conjecturas, já que sempre foi impossível se prever oque poderia ter acontecido. O Schumacher teve adversários sim, primeiro o Damon Hill, que apesar de mediano tinha um bom carro (tá foi o carro que o Senna poderia ter utilizado, mas ela havia morrido), depois o Jacques Villeneuve, e finalmente o Mika Hakkinen que foi bicampeão na F1, e de longe o melhor finlandês até hoje. Bom não adianta conjecturar. A vida não é feita nem de se..., muito menos de mas...
Querem bons exemplos, vamos lá:
1 - E se Wolfgang Von Trips não tivesse morrido, teria sido o primeiro alemão campeão mundial?
Sendo bastante frio e realista, a Fórmula 1 perdeu vários pilotos muito talentosos antes do Senna, e todos estes teriam sido campeões caso não tivessem perdido a vida. O primeiro que me lembro de pronto foi o alemão Wolfgang Von Trips, que morreu no GP da Itália de 1961, após ser tocado pelo Lotus de Jim Clark.
Aquela era a penúltima etapa do mundial, e só os cinco melhores resultados contavam pontos para o campeonato. Bastava ao alemão um terceiro lugar para garantir o título, já que o campeão naquele ano, Phil Hill, obteve 34 pontos (duas vitórias, dois segundos lugares, e um terceiro), exatamente oque poderia ter feito Von Trips.
Não foi isso que quis o destino, Von Trips morreu na primeira volta da prova, após seu carro voar sobre o público, e 14 espectadores também perderam a vida. A Alemanha só foi ter um campeão com Michael Schumacher 34 anos depois.
2 - Jim Clark poderia ter sido o primeiro a vencer a tríplice coroa (F1, Le Mans e 500 Milhas de Indianápoli, mas! Jim Clark foi o grande nome dos anos 60 na Fórmula 1. Piloto extremamente rápido, aliado ao gênio construtor de Colin Chapman marcou época a bordo do Lotus. O “escocês voador” conquistou dois mundiais (1963/ 1965), além de vencer as 500 Milhas de Indianápolis de 1965.
O piloto escocês quase ganhou Le Mans no ano de 1959, terminando em segundo lugar. No ano seguinte foi terceiro. No ano que faleceu em 1968, em uma corrida de Fórmula 2, Clark havia vencido a prova inaugural da temporada da F1 na África do Sul, e se tornado na época o maior vencedor da categoria com 25 vitórias. A Lotus acabou campeã naquele ano com o britânico Graham Hill, mas Clark com certeza teria lhe oferecido forte oposição, mas o destino não lhe permitiu nem o terceiro título na F1, nem uma nova chance de competir em Le Mans.
Clark foi o único piloto a vencer no mesmo ano o Campeonato da F1 e as 500 Milhas de Indianápolis.
3 - E se Cevert não tivesse morrido, seria o primeiro francês campeão na F1?
Houve ainda os caso de François Cevert, piloto francês, já escolhido por Jackie Stewart para ser seu sucessor, mas que morreu de forma trágica nos treinos para o GP dos Estados Unidos de 1973, deixando a Tyrrell órfã de piloto, já que isso acabou antecipando a aposentadoria de Stewart. O francês era extremamente rápido e regular, tanto que nos quatro anos que disputou a F1, foi uma vez terceiro, uma vez sexto, e no ano que morreu terminou o Mundial na quarta colocação.
Cevert era ainda um piloto muito versátil disputando com sucesso o Mundial de Endurance, e terminou em segundo lugar nas 24 Horas de le Mans de 1972 ao volante de um Matras MS670
4 - E se Peterson não fosse obrigado a usar o carro reserva de 1977 em Monza?
Colin Chapman já havia decidido que o campeão da temporada de 1978 seria o ítalo americano Mario Andretti, uma espécie de punição a Ronie Peterson, que havia deixado a equipe inglesa em 1975 para voltar. O sueco era nitidamente mais rápido que o americano, mas o contrato não lhe permitia lutar contra o companheiro.
No GP da Itália Peterson ainda tinha chances matemáticas de roubar o título. Nos treinos ficou decidido que o carro reserva seria de Andretti, e quando Peterson teve seu carro quebrado, a equipe lhe obrigou a usar o modelo do ano anterior, alegando que o reserva já estava ajustado para o companheiro, e Peterson era muito mais alto e daria muito trabalho para mudar os ajustes.
O carro reserva não tinha os tanques revestidos de espuma, e na largada por erro do diretor de prova, se criou uma grande confusão com os carros do final do pelotão largando em movimento, enquanto as primeiras filas já estavam imóveis. Na freada para a primeira chicane se deu a confusão, e uma batida generalizada jogou o Lotus de Peterson contra o guard-rail.
A batida danificou a dianteira e a lateral do carro, causando um grande incêndio. Peterson teve as duas pernas fraturadas e debelado o incêndio, foi retirado do carro consciente e com profundas dores. No hospital acabou tendo seu pé amputado, mas estava salvo de risco de morte.
Na madrugada do dia 11/09/1978 o quadro havia mudado, segundo os médicos por causa fragmentos da medula dos ossos fraturados, o piloto teria sofrido múltiplas embolias em ambos os pulmões, e a embolia também havia atingido o sistema nervoso central, causando sua morte.
5 - E se Villeneuve não tivesse rompido relações com Pironi? Gilles Villeneuve, o canadense que não precisou de título para ser merecidamente imortalizado pelos tifósi (fanáticos torcedores da Ferrari) e por uma legião de fãs de automobilismo, onde eu me incluo. O piloto já havia encantado Enzo Ferrari, fundador da marca italiana do “Cavalino Rampante”, que o manteve na equipe mesmo após sua segunda apresentação na “Rossa” em 1977 no GP do Japão.
Gilles bateu no Tyrrell 6 rodas de Ronie Peterson, voou para fora da pista, atropelou dois expectadores que faleceram, embora os mesmos estivessem em local proibido. A mídia italiana criticou duramente o jovem piloto, mas Enzo bancou e o manteve na equipe.
Em 1979 disputou o título com Jody Scheckter, e reza a lenda que abriu mão de lutar com o companheiro bem mais velho, por saber que teria nova chance no futuro. A diferença entre ambos no final do ano foram de somente 4 pontos.
Em 1982 tinha como companheiro Didier Pironi, e a dupla romperam relações por uma situação muito similar a que detonou o fim da relação amistosa entre Senna e Prost em 1989. Havia um acordo de não atacar o companheiro nas voltas finais, garantindo os pontos para a equipe, mas Pironi desrespeitou o acordo e o superou a duas voltas da bandeirada.
Na corrida seguinte na Bélgica, Villeneuve na ânsia de bater o companheiro no treino de qualificação acabou batendo na roda traseira do March de Jochen Mass, o carro voou e ele foi arremassado para fora do carro com banco, cinto e tudo. Lamentavelmente no dia 08/05/1982 a categoria perdia o seu show man. O “se, e o mas”, não se incomodaram em tirar um possível título da Ferrari e de Villeneuve. Naquele ano o título ficou com Keke Rosberg (Williams), que venceu somente uma corrida. Pironi se acidentou de forma violentíssima com o Ferrari, na Alemanha, e foi o vice-campeão, mesmo ausente das últimas cinco etapas.
6 - E se o regulamento de 1988 não tivesse a obrigatoriedade de descartar resultados?
No entanto nem tudo foram mortes, os casos onde o se... poderia ter feito alguma diferença. 1988 o ano em que Senna conquista seu primeiro título, o mesmo na verdade quase foi para as mãos de Prost. O francês terminou a temporada com maior número de pontos (105) que o brasileiro (94), mas o regulamento previa o descarte dos cinco piores resultados, e com isso Senna acabou com o título no bolso já, que jogava fora uma desclassificação, um abandono, um décimo lugar, um sexto (1 ponto), e mais um quarto posto (três pontos). Prost teve de abrir mão de 12 pontos, jogando fora de três segundos lugares, além dos dois abandonos. A McLaren dominou a temporada aquele ano, com 15 vitórias em 16 provas, mas (opss o artigo condicional mas, não influiu na realidade) o melhor piloto não foi o campeão.
Deixa eu parar por aqui teriam muitos outro exemplos, e já corro risco de ser crucificado.