Tricampeonato consecutivo para a Ferrari nas 24 Horas de Le Mans
A escuderia de Maranello vem dominando a temporada 2025 do WEC (World Endurance Championship - Campeonato Mundial de Endurance), e nesta 96 edição das 24 Horas de Le Mans a equipe italiana chegou ao seu tricampeonato consecutivo, desde que voltou a disputar a classe principal do WEC. Este ano foi a consagração máxima para o polonês Robert Kubica, que era uma das grandes promessas na F-1 antes do seu acidente no rally.
Kubica passou a figurar como o primeiro polonês a ter vencido a prova, e juntamente com o polaco estiveram o chinês Yufei Ye e o britânico Phill Hanson, conduzindo a Ferrari 499P amarela, da AF Corse. A vitória de Ye foi também a primeira de um chinês em La Sarthe.
O trio chegou a levar um susto com os problemas na caixa de velocidades, já que a Porsche, maior vencedora da estória de Le Mans, vinha próxima nas horas finais. O Ferrari nº 83 assumiu a liderança na 20ª hora, após o Ferrari nº 51 ser forçado a uma segunda parada em poucas voltas devido a um full-course yellow mal sincronizado. Durante a intervenção, Alessandro Pier Guidi saiu de pista para a brita, perdendo cerca de 50 segundos. A partir daí, o carro manteve o controle, apesar de indicações de rádio sugerirem possíveis ordens de equipe. No entanto, o forte ataque final do Porsche 963 nº 6, pilotado por Kevin Estre, nos momentos decisivos, impediu que os Ferrari de fábrica, também enfrentando problemas de motor na fase final, conseguissem recuperar a liderança.
Kubica realizou sua última parada com cerca de 40 minutos restantes, trocando por quatro pneus Michelin novos. Enquanto Estre reduzia a diferença para pouco mais de dez segundos com uma única parada para reabastecimento, a vantagem do piloto polonês, com pneus mais novos, foi decisiva. Com uma margem de 14,084 segundos, Kubica garantiu a vitória.
O pódio foi completado pelo Ferrari nº 51, de Pier Guidi, Antonio Giovinazzi e James Calado, que trocaram posições tardiamente com o Ferrari nº 50, de Miguel Molina, Antonio Fuoco e Nicklas Nielsen. A formação liderada pelo WEC mostrou-se consistente, embora tenha ficado atrás na classificação devido a uma estratégia de troca de posições no final.
Os outros Porsche 963 não mostraram ritmo suficiente para competir com o nº 6. O Porsche nº 5, de Christensen, Andlauer e Jaminet, terminou em sétimo, a uma volta, enquanto o nº 4, tripulado pelo brasileiro Felipe Nasr, o britânico Nick Tandy e o alemão Paschal Wehrlein, foi nono.
A Cadillac Hertz Team JOTA, que dominou a sessão de qualificação, não conseguiu manter o ritmo na corrida. Os carros nº 12 e nº 38, de Stevens, Lynn, Nato, Bourdais, Button e Bamber, encerraram a prova em quinto e oitavo, respectivamente, sem grandes preocupações, mas sem ameaçar os líderes.
O último carro a completar a volta do vencedor foi o Toyota GR010 Hybrid nº 7, com pintura que fazia relembrar o mítico GT-One, que terminou em sexto. Após uma saída de pista de Kamui Kobayashi e uma penalização por excesso de velocidade na box, as esperanças da equipe japonesa ficaram concentradas no carro nº 8, de Buemi, Hirakawa e Hartley. Este, contudo, sofreu uma falha na roda dianteira esquerda e precisou retornar às boxes, terminando em 16º, a sete voltas do vencedor.
Na disputa entre construtores franceses pelo último lugar pontuável, a Alpine saiu vitoriosa. O melhor classificado foi o nº 35, de Ferdinand Habsburg, Paul-Loup Chatin e Charles Milesi, em décimo lugar, seguido pelo nº 36, que perdeu tempo ao ficar retido na saída das boxes durante o safety car e por uma saída de pista de Jules Gounon em Mulsanne. Os Peugeot tiveram desempenho discreto: o melhor foi o nº 94, em 12º, enquanto o nº 93 ficou várias voltas atrás nas fases iniciais.
Os dois Aston Martin Valkyrie estrearam na prova, com o nº 009 terminando em 13º, a três voltas do vencedor. A BMW também teve dificuldades: o nº 20, com problemas no motor, terminou em 18º, após uma parada de 37 minutos, enquanto o nº 15, com problemas no sistema de arrefecimento híbrido, foi o último dos Hypercars, a 26 voltas.
As únicas desistências na categoria Hypercar foram os dois Cadillac adicionais, da Action Express Racing e da Wayne Taylor Racing, este último com Filipe Albuquerque, ambos parados por falhas de potência na manhã de prova.
A corrida, relativamente limpa, foi marcada por um único safety car e dez full-course yellows. O Ferrari nº 83 completou 387 voltas, estabelecendo um novo recorde de distância na era Hypercar, superando as 380 voltas da Toyota em 2022.
Na classe LMP2 a vitória acabou sendo decidida somente na hora final. A equipe Inter Europol Competition conquistou o triunfo após Nick Yelloly sair das boxes com ritmo intenso, após uma penalização de drive-through por violações dos limites de pista. Yelloly, ao volante do Oreca 07 Gibson nº 43, garantiu a vitória ao lado de Jakub Smiechowski e Tom Dillmann.
Partindo da segunda colocação no grid, o carro da Inter Europol assumiu a liderança da classe antes do fim da primeira hora, quando o nº 29 da TDS Racing, que saiu da pole, perdeu terreno após Mathias Beche ser substituído, após um início promissor. Com Esteban Masson e Franck Perera recuperando posições a partir do 11º lugar, a equipe VDS Panis Racing emergiu como principal adversária da Inter Europol ao longo da corrida. As duas equipes trocaram a liderança ao longo da noite e da manhã, até que o Oreca nº 43 parecia ter a vitória sob controle, prestes a cruzar a linha de chegada em primeiro. No entanto, Yelloly foi penalizado com drive-through por violações de limites de pista, o que permitiu ao carro da VDS Panis, conduzido por Masson, reassumir a liderança — mas, com o passar do tempo, perdeu ritmo de forma inesperada. Enquanto Yelloly retornava às boxes com pneus novos, o piloto ultrapassou o adversário nos últimos 20 minutos e garantiu a vitória na classe.
A equipe Inter Europol enfrentou poucos percalços, exceto pela substituição do nariz dianteiro do carro após uma saída de pista de Smiechowski na metade da prova, que levou à coleta de gravilha.
Na subcategoria LMP2 Pro/Am, o destaque foi o ‘Spike the LMP2 Dragon’ — o Oreca #199 da equipe AO by TF, conduzido por PJ Hyett, Dane Cameron e Louis Deletraz, que terminou em terceiro geral na classe LMP2.
A categoria LMP2 mostrou-se relativamente estável durante toda a prova, com poucos incidentes e uma baixa taxa de desistências. António Félix da Costa terminou em 9º lugar na sua categoria, ao lado de François Perrodo e Matthieu Vaxiviere. A equipe portuguesa Algarve Pro Racing também completou a corrida com um carro na oitava colocação e outro na 13ª.
Na GT3 a Porsche triunfou mais uma vez. A marca alemã, assim como no ano passado voltou a celebrar uma vitória na classe LMGT3. A equipe Manthey Racing conquistou o triunfo na categoria pelo segundo ano consecutivo, com uma performance dominante do Porsche 911 LMGT3 R #92 Manthey 1st Phorm, pilotado pelos estreantes Ryan Hardwick e Riccardo Pera, além de Richard Lietz, que soma sua sexta vitória na classe em Le Mans. Lietz, que venceu em 2007, 2010, 2013, 2022, 2024 e agora, em 2024, soma mais um troféu na prova de resistência francesa.
A corrida começou de forma desafiadora para o Porsche, que saiu do quinto lugar e caiu para fora do top 10 na fase inicial, com Hardwick enfrentando adversários mais experientes. Contudo, ao longo da noite, o carro do time alemão consolidou-se entre os três primeiros, travando duelos com o BMW M4 GT3 EVO nº46 da Team WRT, que acabou abandonando. Com a saída da equipe belga, o Porsche nº92 assumiu a liderança da categoria e manteve-se na ponta até o final, garantindo a vitória. Ao término, o carro alemão ficou a 33,259 segundos à frente do Ferrari 296 GT3 de François Heriau, Simon Mann e Alessio Rovera.
O pódio na LMGT3 foi completado pela equipe TF Sport, com o Corvette nº81 de Tom van Rompuy, Rui Andrade e Charlie Eastwood. Pela primeira vez, um piloto angolano subiu ao pódio na prova — foi Rui Andrade.
Resultado das 24 Horas de Le Mans
1 Kubica-Ye-Hanson (Ferrari 499P) – AF Corse – 387 voltas
2 Estre-L.Vanthoor-Campbell (Porsche 963) – Penske – 14s084
3 Pier Guidi-Calado-Giovinazzi (Ferrari 499P) – Ferrari – 28s487
4 Fuoco-Nielsen-Molina (Ferrari 499P) – Ferrari – 29s666
5 Stevens-Nato-Lynn (Cadillac V-Series.R) – Jota – 2m18s634
6 Conway-Kobayashi-De Vries (Toyota GR010 Hybrid) – Toyota – 1 volta
7 Andlauer-Christensen-Jaminet (Porsche 963) – Penske – 1 volta
8 Bamber-Bourdais-Button (Cadillac V-Series.R) – Jota – 1 volta
9 Nasr-Tandy-Wehrlein (Porsche 963) – Penske – 1 volta
10 Chatin-Habsburg-Milesi (Alpine A424) – Alpine – 2 voltas
11 Schumacher-Makowiecki-Gounon (Alpine A424) – Alpine – 3 voltas
12 Duval-Jakobsen-Vandoorne (Peugeot 9X8) – Peugeot – 3 voltas
13 Riberas-Sorensen-De Angelis (Aston Martin Valkyrie) – Aston Martin – 4 voltas
14 Jani-Pino-Varrone (Porsche 963) – Proton – 4 voltas
15 Tincknell-Gamble-Gunn (Aston Martin Valkyrie) – Aston Martin – 6 voltas
16 Buemi-Hartley-Hirakawa (Toyota GR010 Hybrid) – Toyota – 7 voltas
17 Di Resta-Jensen-Vergne (Peugeot 9X8) – Peugeot – 8 voltas
18 Rast-Frijns-S.van der Linde (BMW M Hybrid V8) – WRT – 12 voltas
19 Smiechowski-Dillmann-Yelloly (Oreca 07 P2) – Inter Europol – 20 voltas
20 Gray-Masson-Perera (Oreca 07 P2) – VDS Panis – 20 voltas
21 Hyett-Cameron-Deletraz (Oreca 07 P2) – AO por TF – 21 voltas
22 Ried-Capietto-De Gerus (Oreca 07 P2) – Ferro Lynx-Proton – 22 voltas
23 Sales-Beche-Novalak (Oreca 07 P2) – TDS – 22 voltas
24 Roda-Binder-Viscaal (Oreca 07 P2) – Proton – 22 voltas
25 Van Der Zande-Fittipaldi-Heinemeier Hansson (Oreca 07 P2) – United AS – 23 voltas
26 Kaiser-Fluxa-Pourchaire (Oreca 07 P2) – Algarve Pro – 23 voltas
27 Perrodo-Vaxiviere-Da Costa (Oreca 07 P2) – AF Corse – 23 voltas
28 Boulle-Simmenauer-Ghiotto (Oreca 07 P2) – Inter Europol – 24 voltas
29 Schneider-Jarvis-Hanley (Oreca 07 P2) – United AS – 24 voltas
30 M.Jensen-Cullen-Pilet (Oreca 07 P2) – RLR M – 25 voltas
31 Kurtz-Catsburg-Quinn (Oreca 07 P2) – Algarve Pro – 25 voltas
32 D.Vanthoor-Marciello-Magnussen-Eng (BMW M Hybrid V8) – WRT – 26 voltas
33 Malykhin-Blomqvist-Vautier (Oreca 07 P2) – CLX Pure – 29 voltas
34 Hardwick-Pera-Lietz (Porsche 911) – Manthey – 46 voltas
35 Heriau-Mann-Rovera (Ferrari 296) – AF Corse – 46 voltas
36 Van Rompuy-Andrade-Eastwood (Corvette Z06) – TF Sport – 46 voltas
37 James-Drudi-Robichon (Aston Martin Vantage) – HoR – 46 voltas
38 Umbrarescu-Lopez-Schmid (Lexus RC F) – Akkodis ASP – 47 voltas
39 Au-Hartog-Bachler (Porsche 911) – Manthey – 47 voltas
40 Keating-Edgar-Juncadella (Corvette Z06) – TF Sport – 48 voltas
41 Kimura-Serra-Stevenson (Ferrari 296) – Kessel – 48 voltas
42 Sousa-Tuck-Barker (Ford Mustang) – Proton – 49 voltas
43 Fidani-Kern-Bell (Corvette Z06) – AWA – 49 voltas
44 Toledo-Wadoux-Agostini (Ferrari 296) – AF Corse – 49 voltas
45 Berry-Hodenius-M.Martin (Mercedes AMG) – Iron Lynx – 50 voltas
46 DeBoer-Hasse Clot-Barrichello (Aston Martin Vantage) – RSLeman – 51 voltas
47 Hui-Froggatt-Cheever (Ferrari 296) – Tempesta – 52 voltas
48 S.Grove-B.Grove-Stolz (Mercedes AMG) – Iron Lynx – 53 voltas
49 C.Martin-Frey-Bovy (Porsche 911) – Iron Dames – 53 voltas